Eu gostava só de ser normal. Ser tratada como igual e sentir que sou respeitada, tal e qual como sou. Não quero ser mais nem menos, não quero que tenham imensos cuidados com a minha pessoa, não quero que deixem de brincar.
Só gostava (e atenção, não estou a reclamar ou a exigir, estou apenas a pedir, da forma mais sincera e humilde que consigo) que um dia conseguissem estar, conviver e falar comigo sem que antes, depois ou durante, me fizessem sentir gozada, humilhada ou inferior. Mesmo que demorassem uns bons tempos a conseguir, porque eu sei que o hábito tem muita força, eu gosta de saber como é, de sentir que finalmente, vou ser respeitada.
Eu percebo! Juro que sim. Quando somos crianças existem determinados valores, como o respeito, a compreensão ou a amizade, que ainda não estão incutidos. Quando somos crianças gostamos de aproveitar todas as oportunidades para nos divertirmos, mesmo que isso implique ver um de nós a sofrer. Quando somos crianças não percebemos que existem alguns de nós que, por um motivo ou por outro, têm determinado problema de saúde, demasiado visível para que seja impossível de se reparar, comentar ou fazer disso divertimento.
Mas quando temos mais de vinte anos, desculpem, mas conseguimos perceber muito bem tudo isto. Quando temos mais de vinte anos, não consigo compreender como é que um divertimento, ou gozo nosso, implica o sofrimento, na maioria das vezes bem perceptível, de alguém. Quando temos mais de vinte anos, já não estamos a assimilar valores, estamos a viver em sociedade, e somos responsáveis por aquilo que fazemos de plena consciência.
Eu quando era criança passei por várias “fases”. Primeiro percebi que efectivamente tinha algo diferente, mas que por isso não deixava de ser igual a todos os outros. Depois percebi que era mesmo diferente…era impossível não ser, pela forma como era excluída de brincadeiras, pelos nomes que me chamavam, pelo que de mim diziam, pelo gozo que tinham ao me deitar ao chão, roubar coisas, imitarem-me… Quando eu era criança todos os dias de manhã desejava ir para uma escola diferente, num sítio diferente, com pessoas que me deixassem brincar com elas. Quando eu era criança imaginava sempre que a minha professora os ia mandar calar, ou que os meus pais iam lá à escola e lhes batiam (porque eles corriam sempre mais que eu, tinham sempre mais força que eu, batiam-me sempre mais).
Agora, ainda não tenho mais de vinte anos, mas estou quase lá, e algumas coisas mudaram. Sou convidada para as festas, os jantares, os cafés e as saídas. Não me batem nem roubam coisas, e eu corro sempre mais. Mas continuo a sentir-me diferente, pelos nomes que me chamam, pelo que dizem, pela forma como me olham ou falam de mim paralelamente. E com quase vinte anos, eu gostava só de ser normal. Ser tratada como igual e sentir que sou respeitada, tal e qual como sou. Não quero ser mais nem menos, não quero que tenham imensos cuidados com a minha pessoa, não quero que deixem de brincar. Quero só ser respeitada